Sinopse
Meu Nome é Gal acompanha de perto e de dentro o breve e efervescente momento da Tropicália, o principal movimento da contracultura no Brasil, responsável pela maior mudança musical e comportamental que o país já viveu. Gal Costa foi a principal voz feminina do Tropicalismo mas, para isso, precisou se libertar das amarras de uma timidez que quase a impediu de seguir sua vocação inequívoca. Com sua presença, sua atitude, seu corpo e sua voz, Gal Costa transformou a música brasileira e também toda uma geração, principalmente de mulheres. O filme mostra como ela e seus companheiros Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Jards Macalé, Tom Zé e Wally Salomão, ainda muito jovens, enfrentaram a dificuldade de serem tão vanguardistas em meio ao conservadorismo e à violência impostos pela ditadura militar no Brasil.
Onde assistir Meu Nome é Gal
Retratar uma vida toda em um filme é um trabalho de difícil execução, talvez por isso algumas cinebiografias podem parecer apressadas nos fatos representados. A decisão das diretoras Dandara Ferreira e Lô Politi em contar a história de Gal Costa durante um determinado recorte de tempo (o filme se passa entre 1967 e 1971) é muito acertado, focando em uma fase decisiva para sua formação pessoal e artística.
Há pouco sobre a infância ou juventude de Gal, como uma cena breve e que se repete em outro momento do filme em que mostra a artista, criança, ouve sua própria voz em uma bacia de metal, retratando de forma concisa a forma como ela foi se entende como pessoa a partir de seu talento. A não utilização em excesso de momentos desse seu período dão força a estes pequenos flashbacks, que tem uma justificativa além da cronologia para estar ali.
A ditadura militar e a formação da Tropicália caminham juntos com o início e consagração da carreira da cantora. O resultado é uma fase onde o medo, a descoberta e o enfrentamento também se alternavam, fazendo com que o ser e o fazer se transformassem em atitudes corajosamente combativas.
As imagens de arquivo são habilmente utilizadas pelos montadores Eduardo Serrano e Eduardo Gripa, que foram capazes de inseri-las dentro da lógica da narrativa e, em paralelo, as fazem colaborar em transições temporais de uma forma eficaz, contribuindo assim para a sensação de urgência da época.
É notável o preparo dedicado de Sophie Charlotte (O Rio do Desejo, 2022) com sua Gal, uma construção de personagem que pode ser percebida em cada gesto que revela um pensamento não dito. Seus companheiros de cena Luis Lobianco (que interpreta o empresário Guilherme Araújo) e Camila Márdila (que faz Dedé Veloso) são igualmente precisos em suas construções e o filme cresce com suas interações. O tempo de tela ajuda Rodrigo Lelis (Caetano Veloso) e Dan Ferreira (Gilberto Gil) a mostrarem muito do Caetano e Gil que eles pesquisaram. Outros tantos artistas contemporâneos e fundamentais da música brasileira habitam o filme e contextualizam a ebulição cultural daquele momento.
O longa é um presente para aqueles que já conhecem e celebram a vida e trabalho de uma das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos, e pode alcançar também aqueles que pouco conhecem ou ainda não tiveram a oportunidade de ouvir suas músicas. Mostra também um período essencial para se conhecer o Brasil, focando em como artistas tiveram protagonismo na resistência a um dos momentos mais duros de sua história.
Porque recomendamos
A dedicação de Sophie Charlotte em construir Gal é visível, algo ainda mais especial quando levamos em conta que ela teve contato com a cantora (falecida em 2022) durante a preparação. O recorte de tempo em que o filme acontece é preciso e mostra um período essencial para entender o Brasil.
Ficha técnica
- Duração: 120 min
- Ano de lançamento: 2023
- País de produção: Brasil
- Produtora: Paris Entretenimento e Dramática Filmes / Coprodução: Globo Filmes, Telecine e California Filmes
- Distribuidora: Paris Filmes / Codistribuição: SPCINE, Secretaria Municipal de Cultura
- Direção: Dandara Ferreira e Lô Politi
- Roteiro: Lô Politi, Maíra Buhler e Mirna Nogueira
- Produção: Marcio Fraccaroli, Lô Politi, André Fraccaroli, Veronica Stumpf
- Produção Executiva: Jatir Eiró, UPEX, Mariana Marcondes
- Produtores Associados: Wilma Petrillo, Dandara Ferreira e Jorge Furtado
- Elenco: Sophie Charlotte, Rodrigo Lellis, Camila Mardila, Luis Lobianco, Dan Ferreira, Dandara Ferreira, Chica Carelli, George Sauma, Pedro Meirelles, Caio Scot e Barroso
- Direção de Fotografia: Pedro Sotero, ABC
- Direção de Arte: Juliana Lobo, Thales Junqueira
- Figurino: Gabriella Marra
- Maquiagem: Tayce Vale
- Som Direto: Abrão César
- Edição de Som: Beto Ferraz
- Mixagem: Toco Cerqueira
- Trilha Sonora: Otavio de Moraes
- Montagem: Eduardo Gripa e Eduardo Serrano